O REI CASTO

D.Sebastião, Rei de Portugal e do Brasil. À medida que “seu corpo vestia-se de castidade”, ele rogava a Deus: “concedei-me ser vosso capitão!”

Nossa época é cheia de contradições. Uma delas, não pequena, se refere ao modo de apreciar a virtude da castidade.

De um lado, a castidade se encontra tão abolida dos costumes, que as próprias palavras virgindade e castidade praticamente não se usam mais. São termos envelhecidos em face da avalanche de imoralidades, adultérios, homossexualismo e não sei mais que aberrações, tidas como “normais”, “naturais”…

De outro lado, na época em que freqüentei os bancos escolares, no ensino de História, os alunos aprendiam a “escandalizar-se” com reis como Luís XIV e Luís XV, da França, devido a suas concubinas. As Montespan, as Pompadour eram apresentadas como megeras insuportáveis, símbolos da depravação daqueles soberanos e de suas cortes. E quase nada se dizia do índice assustador de imoralidade de não sei quantos ambientes políticos de muitíssimas nações.

Se, em escândalos de todo tipo nossa época é pródiga, hoje em dia o que a mídia ressalta com volúpia, rasgando as vestes como os antigos fariseus, são os lamentáveis fatos que têm ocorrido na família real britânica. É claro que, em tudo quanto membros daquela ilustre estirpe são protagonistas de ações contrárias à Lei de Deus, eles são censuráveis e, conforme o caso, até altamente censuráveis.

Mas –– aqui está a contradição ululante –– por que não são também censuráveis todos quantos fazem coisas equivalentes ou muito piores, sejam eles Presidentes da República, senadores, deputados, ministros ou simples particulares? Por que essa indignação tem mão e não tem contra-mão? Será que a impureza só é vício em casas reais ou estirpes com brasões nobiliárquicos?

Alguém dirá: é porque o escândalo choca mais quando se manifesta entre reis, príncipes e nobres.

Se assim é, a virtude da castidade deveria brilhar mais neles do que em outros. Por que então não se salientam e não se elogiam os reis, príncipes e nobres que foram modelos de castidade? E os houve até santos, e em grande número.

Bem perto de nós pelos laços da História e do afeto está D. Sebastião de Portugal e do Brasil, o rei casto. Leiamos a seu respeito esta admirável página do talentoso e renomado escritor português, Antero de Figueiredo (Dom Sebastião, Rei de Portugal, Livraria Bertrand, 1943, Lisboa).

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“Sua alma cada vez mais se esmaltava de intenções formosas, e seu corpo vestia-se de castidade. Não deixava que nenhuma dama lhe tocasse, e quando passeava a cavalo pela Rua Nova, ou pelas betesgas [becos] da velha e mourisca Lisboa, jamais levantava os olhos para as donzelas que chegavam às ventanas [janelas] ou curiosamente espreitavam por detrás das verdes adufas [muxarabiês] árabes.

“Era que seu espírito, vivendo exclusivamente para o catolicismo e para a guerra, queria servir estas idéias com alma pura e corpo casto.

“Uma manhã, na igreja de São Roque, confessado e comungado, recolheu-se todo em si, cabeça inclinada para o peito, em profunda absorção. Esteve assim muito tempo. Depois, ergueu a fronte, pôs firme os olhos num crucifixo alto e, entre grossas lágrimas, rogou com a alma inteira:

–– “Senhor, Vós que a tantos príncipes haveis concedido impérios e monarquias, concedei-me ser vosso capitão!

“Eram três as suas orações diárias: –– “Que Deus o inflamasse no zelo da fé, que ele queria propagar pelo mundo; –– que Deus o tornasse um ardido guerreiro; –– que Deus o conservasse casto.

“Ser casto! Para ele a castidade era uma graça física que o tornava forte, uma fortaleza que o fazia ledo [alegre]. A castidade dilatava-lhe a alma, amando a todos –– ao reino, à grei [ao povo]. Era uma pureza que, vivendo em si, marcava conceito nobre em todos os seus propósitos, lhe punha frescor no olhar e lhe brunia [tornava brilhante] as faces com sorrisos brancos. Ser casto era vestir um arnês [armadura] de candura”.

Fonte: http://catolicismo.com.br/materia/materia.cfm/idmat/55CCB04E-3048-313C-2EA1458341AA8703/mes/Marco1993

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