A civilidade em extinção

A civilidade em extinção: o abandono das fórmulas tradicionais leva à barbárie
"Senhoras e Senhores!"
“Senhoras e Senhores!”

A civilidade está em extinção. Um exemplo recente nos Estados Unidos da América mostra até onde isso pode ir.

Passageiros, consumidores ou como você quiser chamá-los são bem-vindos no sistema de transporte da cidade de Nova Iorque. Apenas não os chame “senhoras e senhores”. A Autoridade Metropolitana de Trânsito (MTA, na sigla em inglês) baniu a expressão em mais um estranho episódio da guerra cultural pelo politicamente correto.

“Senhoras e Senhores” não é inclusivo o bastante para o pesado sistema policial responsável pelo patrulhamento das linhas de transporte.

Não importa que os condutores a venham usando por um século. Não importa que os sistemas automáticos de anúncio estejam ainda programados com as velhas fórmulas de cortesia. Não importa que os passageiros possam querer ser chamados assim.

Tudo isso deve ser imediatamente mudado nos ônibus, trens e estações. O MTA decidiu que os condutores devem passar a usar novas fórmulas que substituam o tradicional “Senhoras e Senhores”[1], sugerindo “passageiros” como substituto.

Os condutores serão monitorados pela administração. Eles devem até mesmo suplantar manualmente os sistemas automáticos enquanto as novas gravações não estejam disponíveis.

Assim foi decretado, e que ninguém ouse fazer o contrário…

A cultura está nas pequenas coisas

Alguns podem pensar que tais detalhes sejam insignificantes. Que não fazem a menor diferença em nossa vida diária.

Entretanto, coisas assim são um indicativo poderoso do grau de decadência em que se encontra nossa sociedade. Elas mudam a cultura, pois esta é feita desses pequenos detalhes.

Sempre que uma revolução explode, há uma tentativa de mudar as pequenas coisas. Curiosamente, os revolucionários sempre trocam o modo de se dirigir às pessoas.

A Revolução Francesa de 1789 rapidamente privou as pessoas de seus títulos próprios, por mais simples que fossem, e insistiu que todos fossem chamados apenas cidadãos[2]. A Revolução Russa de 1917, igualou do mesmo modo as pessoas, chamando-as camaradas.

Essas mudanças culturais indicavam uma alteração no modo de a sociedade compreender os indivíduos. Tratava-se de singelas alterações impostas aos povos, mas que promoviam uma agenda ideológica.

Durante aquelas revoluções, os termos neutros simbolizavam que todo mundo era completamente igual em tudo, incluindo inteligência, habilidade e talentos. Dizer camarada significava para todos que aquela pessoa era parte da tirania comunista que nivelava a sociedade e controlava todos os aspectos da vida.

Um mandado pós-moderno

A supressão de “senhoras e senhores” carrega um tom particularmente ‘pós-moderno’.

Cidadão e camarada ao menos identificavam as pessoas com algo permanente. A nova designação de passageiros, pelo contrário, descreve meramente um estado temporário dos indivíduos assim chamados.

Ela cabe bem na ambiguidade pós-moderna, que borra todas as distinções e odeia todas as definições. As pessoas são o que elas decidam ser no momento. Elas são estimuladas a se auto-identificar com o que elas percebem ser.

Não é coincidência que os termos supressos tenham sido mudados.  Eles não são ‘inclusivos’, pois não abarcam os passageiros ‘transgênero’, que não se sentem confortáveis sendo chamados pelas categorias binárias masculino-feminino postas por Deus.

O mandado da autoridade ferroviária é a pós-modernidade no que esta tem de pior. Ele reduz as pessoas a meros simulacros (para usar seus próprios termos), nos quais tudo passa a ser formas não substanciais ou aparências de algo.

O significado de “Senhoras e Senhores

É por isso que está errada a supressão de “Senhoras e Senhores”. Ela priva as pessoas de sua dignidade. Ela arranca, tanto dos homens quanto das mulheres, tudo o que é distinto, honrado e digno de respeito.

Quando uma mulher era chamada de ‘senhora’, tratava-se de um elogio. Ao aceitar tal título, a mulher é considerada como se comportando conforme os altos padrões de uma senhora que aprecia a graça, a modéstia e a beleza. Assumia-se um desejo de ser verdadeiramente feminina, e de se gloriar por qualidades que hoje são tão negligenciadas.

Quando um homem era chamado de ‘senhor’, sentia também como um elogio. Considerava-se encaixado em altos padrões. Os homens eram chamados a vencer a parte animalesca de sua natureza e a demonstrar uma gentileza masculina que falasse de cortesia, consideração e proteção – virtudes hoje esquecidas.

Quando um grupo era tratado por “Senhoras e Senhores”, tal expressava um respeito complementar e mútuo entre os sexos. Não se sentia de nenhuma maneira o tom de luta de classes presente na propaganda feminista. Pelo contrário, esse tratamento celebrava as diferenças entre ambos com cerimônia e distinção.

Esse tratamento é fruto da Civilização Cristã. Foi a Igreja que primeiro reconheceu e elevou a dignidade do homem, e mais especialmente a da mulher, tão degradada nas terras e nos tempos pagãos.

A moralidade cristã criou uma atmosfera de caridade, confiança e respeito que harmonizava ao mesmo tempo que protegia os sexos.

O retorno aos tempos bárbaros

Assim, a supressão aparentemente insignificante de “Senhoras e Senhores” no sistema de transporte de Nova Iorque representa um enorme passo atrás.

Ela afirma que já não precisamos nos comportar como senhoras e senhores, mas como os seres que pretendamos ser, ou que consideremos ser no momento.

Já podemos regredir para os tempos bárbaros. As pessoas são livres para desrespeitar, assediar e ofender a qualquer um da pior maneira. Os outros se tornam meros instrumentos de nosso prazer.

Os recentes escândalos sexuais não deveriam ser surpresa para ninguém. Eles são o produto final de uma cultura podre em que as pessoas já não tratam seus semelhantes como Senhoras e Senhores.


[1] Ladies and Gentlemen, em inglês.

[2] Citoyens, em francês.

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