Modéstia: virtude essencial – I

Modéstia: virtude essencial, proteção da castidade, salvaguarda da família
Cristo Ressurrecto resgatando Adão e Eva do Limbo

A modéstia é uma virtude essencial para todos nós, homens e mulheres de todas as idades e de todos os tempos. Ela é a protetora da castidade e, portanto, uma salvaguarda valiosa da família.

Publicamos a seguir um interessante estudo do escritor americano Hugh Owen. Católico do rito greco-melquita, casado e pai de nove filhos, é fundador e diretor do Centro Kolbe para o Estudo da Criação.

O estudo é dividio em duas partes. Na primeira, o autor se dedica a uma rápida exploração pelas Sagradas Escrituras, para resgatar as origens da modéstia e sua presença nos costumes do povo hebreu.

Quanto à segunda parte, vamos publicá-la em nosso próximo post.

O estudo veio a lume originalmente em LifeSiteNews. A tradução é nossa.

De onde vem a modéstia, e por que ela continua a ser essencial em nossos dias

Hugh Owen

Modéstia: virtude essencial, proteção da castidade, salvaguarda da família
Cristo Ressurrecto resgatando Adão e Eva do Limbo

Hoje em dia, em comunidades tanto de rito latino quanto de rito bizantino, muitas tradições antigas vêm sendo contestadas. E muitos fiéis têm sido levados a achar que várias das maneiras “antigas” de fazer as coisas devem ser tidas por ‘ultrapassadas’, inadequadas para nossa época.

Uma das “velhas maneiras” vista como ultrapassada é o modo ‘antigo’ de se vestir – tanto os antigos padrões de trajes em geral, como em particular as vestes próprias para o culto divino.

Neste artigo, vamos discutir se os padrões tradicionais de “modéstia” são ultrapassados ou se ainda valem. Se são sujeitos a mudanças conforme a moda, ou se são ordenados por Deus e, portanto, perenes.

A modéstia protege a castidade

Adão e Eva foram criados num estado de perfeita integridade. Nele, suas paixões e apetites eram inteiramente subordinados à razão, e esta, por sua vez, à vontade de Deus.

Nesse estado original de integridade, Adão e Eva possuíam a perfeita castidade.

Com o pecado original, entretanto, nossos primeiros pais perderam o dom da integridade. Suas paixões e apetites passaram a não mais se sujeitar à razão, nem esta se submetia facilmente à vontade de Deus.

Sob tais condições, a castidade não mais podia ser preservada sem a proteção adicional da modéstia.

O Catecismo da Igreja Católica define essa virtude como a “recusa a mostrar o que deve permanecer oculto”, acrescentando que

“a modéstia é ordenada à castidade, de cuja sensibilidade dá testemunho. Ela guia o modo como devemos nos ver uns aos outros e nos comportar de acordo com a dignidade das pessoas […]

Ela inspira a escolha das vestimentas. E mantém o silêncio ou a reserva onde há evidente risco de uma curiosidade malsã” (nº. 2521-2522).

A modéstia nas Sagradas Escrituras

Uma visita às Sagradas Escrituras com enfoque no tema da modéstia confirma esse ensinamento. A primeira menção bíblica ao vestir-se ocorre no livro do Gênesis após a queda de Adão.

Antes da queda, Adão e Eva vestiam-se da “glória de Deus”. De acordo com S. João Crisóstomo, quando nossos primeiros pais pecaram contra Deus no Paraíso, eles perderam a graça de Deus, que os iluminava de glória, e tomaram consciência da sua nudez.

“Então os seus olhos abriram-se. E, vendo que estavam nus, tomaram fo­lhas de figueira, ligaram-nas e fizeram tangas para si” (Gen. 3,7).

Tendo perdido a glória de Deus, na qual haviam sido criados, Adão e Eva procuraram vestir seus corpos nus com folhas de figueira. Mas Deus não se satisfez com aquelas ‘tangas’. Providenciou, para ambos, trajes longos feitos de peles provindas do sacrifício de animais.

Ressalte-se, aliás, de passagem, que tal procedimento prefigura a morte sacrifical de Nosso Senhor Jesus Cristo. Morte que mereceu, para Adão e Eva e para todos os seus descendentes, uma participação em Sua perfeita Castidade.

Como se vê, desde o início da história humana, Deus vestiu o primeiro homem e a primeira mulher de modo a proteger a castidade deles.

Reflexos na iconografia bizantina

Isso se reflete bem na iconografia de tradição bizantina, que sempre representa os pais do gênero humano, após o exílio do Paraíso, vestidos em peles cruas de animais, que os cobriam desde os ombros até os joelhos.

A importância da modéstia no vestir para nossos primeiros pais ganha ainda maior ênfase nos ícones da Ressurreição, que mostram Cristo Ressurrecto resgatando Adão e Eva do Limbo inteiramente trajados da cabeça aos calcanhares.

A rebelião das paixões

No estado original do homem, vestido da luz da glória, o corpo e a alma de Adão e Eva existiam em perfeita harmonia com a vontade divina. Porém, depois da queda, corpo e alma entraram em desordem, e as paixões que deviam serviam a alma tornaram-se rebeldes.

Embora Adão e Eva continuassem, após a queda, a ser “uma só carne” com a bênção de Deus, o desejo recíproco já não era perfeitamente ordenado como no estado de integridade.

Como seus filhos e netos começassem a povoar a Terra, a necessidade da modéstia tornava-se ainda mais urgente. Com isso, Deus teve de ensinar o homem a disciplinar sua mente e seu corpo a manter a ordem correta dentro de si, para que ele pudesse viver na amizade do Criador.

Os Dez Mandamentos requeriam do povo de Deus que mantivesse um alto padrão de castidade. E a Lei Mosaica ordenava punições estritas àqueles que violassem a santidade do matrimônio com a fornicação, o adultério ou a perversão sexual.

A mulher hebreia, privilegiada entre todas

Sob a Antiga Aliança, as mulheres tinham direitos de que não gozavam na maioria das outras sociedades.

Para as mulheres hebreias, o traje modesto não significava apenas a proteção contra a luxúria e a impureza, mas era também um sinal de sua dignidade.

Quando Isaías profetizou contra Babilônia, ele a personificou em uma mulher, e predisse que ela decairia de sua posição de poder e prestígio para a escravidão abjeta.

No mundo antigo, apenas escravas e prostitutas descobriam as pernas. Tendo isso em vista, pode-se medir o horror do aviso de Isaías à Babilônia:

“Desce de teu trono, agacha-te ao solo, virgem, filha de Babilônia; assenta-te no chão, sem trono, filha dos caldeus! Já não serás chamada a delicada e a voluptuosa.

Toma a mó, vai moer a farinha, tira teu véu, arregaça teu vestido, descobre tuas pernas para passar os rios, descobre tua nudez, que se veja teu opróbrio” (Is. 47:1-3).

Nenhuma mulher em Israel exporia deliberadamente suas pernas à vista do público. Um tal ato de imodéstia só era imposto às escravas e às prostitutas.

Assim, a modéstia no vestir deu testemunho único da dignidade da mulher na sociedade hebreia e a distinguiu das mulheres gentias, frequentemente tratadas como coisas.

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