Por Leo Daniele
“Entre Enganin e Cesareia, num casebre desgarrado, sumido na prega de um cerro, vivia a esse tempo uma viúva.” Assim começa o célebre conto de Eça de Queiroz, intitulado Suave Milagre, e ao filho aleijado dessa viúva vai a atenção do leitor.
“A criancinha pediu e pediu à mãe que lhe trouxesse Jesus, mas ela lhe explicou que nem Obed nem Públio Sétimo que eram homens ricos e poderosos o conseguiram.
“— Oh filho! E como queres que te deixe, e me meta aos caminhos, à procura do Rabi da Galileia? Obed é rico, e tem servos, e debalde buscaram Jesus, por areais e colinas, desde Chorazim até ao país de Moab. Sétimo é forte, e tem soldados, e debalde correram por Jesus, desde o Hebrom até o mar! Como queres que te deixe?
“ — Jesus anda por muito longe e a nossa dor mora conosco, dentro destas paredes, e dentro delas nos prende. E mesmo que O encontrasse, como convenceria eu o Rabi tão desejado, por quem ricos e fortes suspiram, a que descesse através das cidades até este ermo, para sarar um entrevadinho tão pobre, sobre enxerga tão rota?
“A criança, com duas longas lágrimas na face magrinha, murmurou:
“— Oh mãe! Jesus ama todos os pequeninos. E eu ainda tão pequeno, e com um mal tão pesado, e que tanto queria sarar!
“E a mãe, entre soluços:
“— Oh meu filho, como te posso deixar? Longas são as estradas da Galileia, e curta a piedade dos homens. Tão rota, tão trôpega, tão triste, até os cães me ladrariam da porta dos casais. Ninguém atenderia o meu recado, e me apontaria a morada do doce Rabi. Oh filho! talvez Jesus morresse… Nem mesmo os ricos e os fortes O encontram. O Céu O trouxe, o Céu O levou. E com Ele para sempre morreu a esperança dos tristes.
“De entre os negros trapos, erguendo as suas pobres mãozinhas que tremiam, a criança murmurou:
“— Mãe, eu queria ver Jesus…
“ E logo, abrindo devagar a porta e sorrindo, Jesus disse à criança:
“ — Aqui estou.
* * *
O que falta ao século XXI, tão roto, tão trôpego, tão triste, para obter por meio de Nossa Senhora graça semelhante à que teve o menino do conto? O que é preciso é reconhecer-se pequeno e roto, diante da grandeza de Quem que de alguma maneira vai nos atender, se pedirmos.
bservadas estas condições, também nos nossos tempos o milagre se repete. Mas um milagre de realidade total, e não de imaginação como o de Eça. Por exemplo na Hungria, durante o regime, comunista — nos últimos tempos desta chaga da Humanidade — naquele abençoado país católico. Gertrudes, a professora, ateia e provavelmente comunista, imaginou uma cilada para tornar suas alunas ateias: sugeriu que todas O chamassem. Se Ele existisse, Ele certamente viria, diante do brado das meninas. Como Ele não surgiria, seria uma prova de que Ele não existe.
“O medo, a dúvida, por um momento jugulados, podiam renascer, mas o sentido da camaradagem deu o impulso, que as reuniu em torno daquela que se revelava ‘chefe’(Angela) e esperava o milagre. Tinham os olhos fixos, não na porta, por onde poderia entrar o Menino, mas na parede branca, em que se destacava a figurinha de Angela, e continuavam a repetir:
‘Vem, Menino Jesus! Vem, Menino Jesus!
“Nesse instante, a porta abriu-se sem ruído, e as crianças pensaram que toda a luz do dia entrava por ela. Era uma claridade intensíssima, que crescia, crescia como a chama violenta dum enorme fogo. No meio desse clarão, um globo cheio de luz. O medo invadiu-as , mas nem tiveram tempo para gritar ou fugir; o globo abriu-se e apareceu um Menino lindo e risonho como nunca tinham visto. O Menino sorria sem proferir uma palavra, e todas sorriram também, tranquilas e contentes. Algumas garotas esfregavam os olhos para melhor contemplarem o Menino vestido de luz, outros olhavam-no de olhos espantados, sem pestanejarem. O Menino sorria, não falava, sorria para todas.
“Depois, o globo fechou-se de mansinho, e desapareceu devagar. A porta fechou-se sem que ninguém lhe tocasse, e as crianças emocionadas, os coraçõezinhos inundados de felicidade, sem uma palavra abraçavam-se, a chorar de felicidade. O Menino as ouvira! O Menino viera!
As crianças olhavam ainda a porta. Subitamente, um grito agudo quebrou a emoção desse silêncio. Aterrada, os olhos esgazeados, braços estendidos, mãos enclavinhadas, a professora gritava como louca:
“Ele veio! Ele apareceu!
“Em seguida fugiu, batendo com força a porta. A Sra. Gertrudes deu entrada em um manicômio”.
Isto se passou na paróquia do Pe. Norberto, o vigário dessa paróquia, que é quem narra o ocorrido. Testemunha da revolução anticomunista ocorrida em 1956, ele testifica a realidade destes acontecimentos, declarando sob juramento ter interrogado as meninas e não ter encontrado em suas palavras contradições.(*)
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(*) Retiramos os dados referentes aos maravilhosos acontecimentos da Hungria da revista Catolicismo, nº 756, de dezembro de 2013.
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(*) Leo Daniele é colaborador da Agência Boa Imprensa (ABIM)
Fonte:http://www.abim.inf.br/suaves-milagres-de-jesus-menino/#.W3pzdM5KhhE
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