Revista Catolicismo, Outubro/2017, Nº 802
Três séculos de reinado da Rainha e Padroeira do Brasil! 300 anos de uma chuva constante de graças dispensadas não somente no abençoado local da aparição de 12 de outubro de 1717, mas de norte a sul deste reino da Santíssima Mãe de Deus e de todos os brasileiros.
A profunda crise social, política e econômica que hoje convulsiona o Brasil é incomensurável e sem precedentes. Mais grave ainda, no entanto, é a crise religiosa e moral que nos aflige. Tudo isso nos leva a voltar súplices nossos olhos para nossa Rainha e Padroeira, que está à nossa espera. Corramos e roguemos à Senhora da Conceição Aparecida que nos socorra e salve esta nação destinada por Deus a uma missão tão grandiosa — e da qual, entretanto, está tão distante em decorrência da descristianização que grassa em todos os quadrantes do País, até mesmo nos ambientes religiosos, provocada pelo clero progressista aliado da “Teologia da Libertação”.
Neste jubileu comemorativo dos 300 anos da “pesca milagrosa” da imagem da Virgem Mãe Aparecida nas águas do Paraíba, lucraremos muito em recordar o estupendo milagre e as dádivas advindas a partir daí para o Brasil. Catolicismo presta, assim, sua homenagem à nossa Augusta Rainha, recordando sua prodigiosa história através, sobretudo, de considerações tecidas por Plinio Corrêa de Oliveira em algumas conferências e matérias publicadas na imprensa.
Na história do Brasil, a história mariana por excelência
Para uma breve recomposição do lugar da aparição da bendita imagem de Nossa Senhora Aparecida e do desenvolvimento da devoção a Ela até ser oficialmente declarada Rainha do Brasil, seguem algumas conjecturas feitas por Plinio Corrêa de Oliveira em conferência realizada no dia 5 de outubro de 1964.
“É interessante notar como surgiu a devoção a Nossa Senhora Aparecida, que características tomou e como foi se desenvolvendo ao longo da história do Brasil. Sabemos que ela nasceu no Vale do Paraíba, e conhecemos o seu ponto de partida.
Em outubro de 1717, três pescadores [Domingos Garcia, João Alves e Filipe Pedroso] estavam pescando no Rio Paraíba. De repente eles ‘pescam’ com suas redes o corpo de uma imagem e, mais adiante [numa segunda lançada das redes], sua cabeça. A pescaria, que estava muito difícil até aquele momento, tornou-se abundante. Depois eles construíram junto ao rio uma capelinha para a imagem que tinham encontrado, substituída mais tarde por uma capela maior. Muitos anos depois, ergueu-se no local uma igreja.1
As bênçãos ali alcançadas foram acentuadamente numerosas. O povo começou a afluir em quantidade, recebendo graças extraordinárias. Entre elas se conta que um escravo chamado Zacarias, perseguido por seu senhor; ele rezou diante da Imagem Aparecida pedindo a sua libertação. De repente percebeu que suas algemas se partiram, ficando livre delas. E seu senhor, que iria puni-lo ferozmente, porque tinha fugido, viu-se desarmado e concedeu-lhe a liberdade. As correntes e algemas ainda se conservam na sala dos milagres na cidade de Aparecida.2
Desde então a devoção a Nossa Senhora Aparecida se tem generalizado. Populações daquela zona do norte do estado de São Paulo, como também de Minas Gerais, do estado do Rio e de todo o Brasil, confluem para ali. Ela vai atendendo aqueles devotos, concedendo continuamente benefícios celestiais.
Coroada solenemente Rainha do Brasil
Ao mesmo tempo em que isto se dava, a devoção à Virgem Aparecida foi marcando a vida da Igreja. A tal ponto que, no pontificado de São Pio X, Ela foi coroada solenemente Rainha do Brasil, em 8 de setembro de 1904. Coroação efetivada num ato oficial, na presença de muitos membros do Episcopado nacional. De acordo com decreto da Santa Sé, Nossa Senhora Aparecida passou a ser Rainha do Brasil. Mais tarde, em julho de 1930, Pio XI a declarou Rainha e Padroeira do Brasil.
A Santa Sé tem o direito de constituir uma padroeira para determinada nação, bem como de erigir uma rainha dessa natureza, que estabelece um vínculo especial de um determinado povo com Nossa Senhora, e — o que é mais estupendo — da Santíssima Virgem com esse povo. O poder de desligar e ligar na Terra e no Céu tem, entre outros, esse efeito (Cfr. Mt 16, 17-19).
E Nossa Senhora, portanto, ficou sendo no Céu a verdadeira Rainha do Brasil. Esse fato nos deve ser muito grato, porque devemos ver nele um prenúncio do Reino de Maria.3
Com Nossa Senhora aclamada Rainha do Brasil, o Reino de Maria juridicamente já ficou declarado. E juridicamente — para os efeitos celestes e para os efeitos terrestres — Nossa Senhora tem direitos sobre o Brasil maiores ainda do que se Ela fosse Rainha apenas nesta Terra.
Devido a isto, temos uma obrigação especial de cultuar Nossa Senhora, de dar glória a Ela, de difundir sua devoção por toda parte, de lutar junto aos outros povos que resistam ao culto de Nossa Senhora, de fazer, portanto, cruzadas em nome d’Ela. Com isso, é toda uma vocação nacional e mundial que se delineia para o Brasil, a partir precisamente dessa devoção a Ela como nossa Rainha.
Não esquecer o verdadeiro polo: Aparecida
Daí decorre também outro fato: se o Brasil não fosse oficialmente o País agnóstico e interconfessional que é, o verdadeiro seria, para determinados efeitos, que sua capital autêntica fosse Aparecida.
Depois de Nossa Senhora ter sido declarada Rainha do Brasil, eu não concebo a possibilidade de que os grandes atos da vida nacional se realizem em outro lugar que não em Aparecida: promulgação de leis importantes, declarações de guerra, tratados de paz, grandes solenidades das ilustres famílias do País. Eu só concebo tais atos sendo realizadas em Aparecida, que, como resultado dessa coroação, passou a ser o centro espiritual do País.
No momento em que tanto se discute ‘Brasília ou Rio’, nós esquecemos o verdadeiro polo — Aparecida —, para esses efeitos, a verdadeira capital do País! Assim se tem a perspectiva de como Aparecida deveria ser considerada.
É bonito imaginar como será a Basílica de Nossa Senhora Aparecida quando for instaurado no Brasil o Reino de Maria [predito por São Luís Maria Grignion de Montfort e revelado em Fátima em 1917]. Que honra, que pompa, que grandeza, que nobreza, que elevação essa basílica deveria ter!
Podemos imaginar uma grande conjunção de Ordens religiosas contemplativas que deveriam se estabelecer naquela região; grandes confessores que fossem confessar ali, para fazer bem às almas; centros especiais de cursos para intensificação da devoção mariana; enfim, quanta e quanta coisa.
São desejos que não estão no reino dos sonhos e dos ideais. Nós, que confiamos na Providência Divina, sabemos bem a diferença que há entre um sonho e um ideal. Para o homem que não confia na Providência todo ideal não é senão um sonho; para o que confia, muita coisa que parece sonho é um ideal realizável. Devemos esperar que Ela realize tais fatos e fazer tudo para apressar esse dia — dia da constituição naquela localidade de uma ordem de coisas como deve ser, sintoma da remodelação de todas as coisas no Brasil e no mundo, para o cumprimento da promessa de Nossa Senhora em Fátima: ‘Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará’.
É para o triunfo do reinado do Coração Imaculado de Maria — que no Brasil se apresenta sob a devoção a Nossa Senhora Aparecida — que devemos rezar”.
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