EX-ESCRAVA AMERICANA NO CAMINHO DA CANONIZAÇÃO

Por Plinio Maria Solimeo

O caminho da santidade está aberto para todos, ricos e pobres, pessoas de todas as raças e classes. Basta seguir o conselho de Nosso Senhor, que “veio para nos ensinar a renunciar à impiedade e às paixões mundanas, e a viver neste mundo com toda sobriedade, justiça e piedade” (São Paulo, epístola a Tito, 2, 12).

Por isso vemos, entre os santos da Igreja Católica, desde Imperadores até humildes empregadas domésticas e pastores.

Muitos creem que é mais difícil ser santo na extrema pobreza, do que possuindo grande riqueza, mas não é a realidade histórica, pois na prosperidade é muito mais fácil esquecer-se de Deus.

Hoje apresentaremos alguns dados de uma ex-escrava americana em cuja extrema pobreza encontrava sempre o que dar aos ainda mais necessitados do que ela. Convertida ao catolicismo, ela comungava diariamente e era muito devota do Sagrado Coração de Jesus.

Trata-se de Julia Greeley [foto acima], nascida escrava entre 1833 e 1848 em Hannibal, no Missouri (ela não se lembrava do ano em que nasceu). Em 1874, 11 anos após a libertação dos escravos, ela se mudou para Denver, no Colorado, indo morar com uma mulher católica, Júlia Gilpin, casada com o primeiro governador territorial do Colorado, William Gilpin. Sob a influência da patroa, Júlia se converteu ao catolicismo em 1880, recebendo o batismo na igreja do Sagrado Coração de Jesus daquela cidade.

Desde então foi uma católica fervorosa, de missa e comunhão diárias. Ela chamava a Eucaristia de “seu desjejum”. Passou então a dedicar sua vida às obras de misericórdia.

Com efeito, embora ganhasse pouco, limpando e cozinhando, “dedicava-se a ajudar outras pessoas [mais] pobres do que ela. Isto já diz tudo sobre o seu coração caritativo. Ademais, sentia grande devoção pelo Sagrado Coração de Jesus, ficando conhecida por caminhar até 20 diferentes estações de bombeiros a fim de repartir entre eles medalhas de feltro do Sagrado Coração [o ‘Detém-te’, ou ‘Escudo do Sagrado Coração de Jesus’] e folhetos. Ela é a encarnação das obras corporais e espirituais de misericórdia…”, escreve seu biógrafo.

Após deixar o serviço com os Gilpin, Júlia começou a fazer eventuais trabalhos de cozinheira, limpadora e cuidadora de crianças. Era frequentemente vista nas ruas de Denver com sua roupa modesta, um chapéu ondulado de aba larga e uns sapatos maiores que seu pé, enquanto empurrava um carrinho vermelho cheio de artigos que havia comprado, encontrado ou mendigado, e que logo dava aos necessitados.

Geralmente fazia essa distribuição à noite, para permanecer no anonimato. Socorria igualmente famílias de negros e de brancos pobres, usando de muita delicadeza para não melindrá-los.

Júlia faleceu no dia 7 de junho de 1918, na festa do Sagrado Coração de Jesus. Os jornais da cidade, como o Denver Catholic Register, escreveram longos obituários em sua honra. Como ela não sabia bem sua idade, calcula-se que teria entre 70 e 85 anos quando faleceu. Era tão querida, que seu corpo permaneceu na capela ardente durante cinco horas, para atender ao afluxo constante de pessoas de todos os âmbitos da sociedade que queriam venerá-la.

Júlia Greeley é um modelo de misericórdia para os católicos de Denver. A arquidiocese encomendou a uma artista uma imagem da ex-escrava, e espera-se para breve a abertura de sua causa de beatificação.

De Júlia infelizmente só há uma foto [retrato acima], em que segura um bebê branco no colo. Entretanto, sua fisionomia não pode ser vista, pois a aba de seu chapéu lança sombras sobre seus olhos. É isso que a artista encarregada de confeccionar sua imagem deve procurar sanar.

Os habitantes de Denver creem firmemente que ela esteja no Céu, pois Nosso Senhor disse: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque encontrarão misericórdia” (Mt 5, 7).

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