EM NURSIA BOMBEIROS TIRAM DAS RUÍNAS IMAGEM ÍNTEGRA DE SÃO BENTO

Por Luis Dufaur

 

Quase cinco meses após o terremoto que devastou o centro da Itália e arrasou a famosa basílica de São Bento em Núrsia, construída no local onde nasceu o Patriarca do Ocidente, um grupo de bombeiros ingressou nas ruínas e resgatou, assombrosamente intacta, uma imagem do padroeiro da Europa, conforme noticiou ACIPrensa.

Com o terremoto do dia 30 de outubro de 2016, nas regiões italianas de Úmbria e Marche, só a fachada dessa basílica ficou em pé, e mesmo assim em estado periclitante.

Todo o resto virou entulho, do qual foram salvas algumas peças artísticas. O ingresso, inclusive à cripta, ficou interditado, por grave perigo de novos desabamentos.

No dia 21 de março de 2017, na festa do Trânsito de São Bento, alguns bombeiros internaram-se nas profundezas dos restos, chegando pela primeira vez até a antiga cripta sepultada pelos escombros.

E com admiração encontraram a estátua de bronze do santo, que se sabia que estivera ali, constatando estar ela incrivelmente íntegra. Conseguiram resgatá-la.

No vídeo difundido pelos bombeiros (ver abaixo), eles aparecem avançando numas como que cavernas de entulho para chegar à cripta.

Após trazê-la à luz, a bela imagem foi recoberta com uma das casacas dos bombeiros, como eles fazem com as pessoas resgatadas.

Foi nessa cripta que, segundo a tradição, nasceram São Bento e sua irmã Santa Escolástica. O prefeito de Núrsia, Nicola Alemanno, sublinhou que “o incrível é que nessa capelinha completamente destruída, uma pequena estátua de São Bento permaneceu em pé”.

Na praça principal, diante da basílica arruinada, o prior da comunidade beneditina de Núrsia, P. Benedicto Nivakoff, agradeceu ao “nosso padroeiro [que] nos salvou a vida”, porque “é um milagre nós não termos morrido em 30 de outubro enquanto rezávamos no interior da basílica”.

Segundo o jornal “Il Giornale” de Milão, foi uma surpresa achar a estátua, que se encontrava em um nicho.

O prefeito da cidade, citado pelo jornal milanês, disse outra coisa surpreendente:

“Todos os monumentos ficaram danificados, exceto as estátuas de nosso santo protetor”, informou o jornal “Il Corriere della Sera”.

A referência especial é à famosa estátua de mármore do santo, que se ergue isolada no centro da praça principal da cidade.

Ela permanece inabalada, diante da basílica destruída e do prédio da prefeitura gravemente danificado, como outrora os mosteiros beneditinos ficaram em pé numa Europa devastada pelas invasões bárbaras.

Embora alta e sustentada apenas por um pedestal, ficou impávida e íntegra, de um modo considerado “milagroso” pelo jornal milanês.

Os recursos para reconstruir a basílica foram garantidos repetidas vezes pela União Europeia. Além desse financiamento, os monges receberam promessas no mesmo sentido do governo italiano e de organismos internacionais e pessoas do exterior.

Mas irrompeu simultaneamente um anúncio, que poderá causar mais danos ao patrimônio religioso da cidade e da Europa do que o próprio terremoto.

Porém, bispo pode apagar o passado beneditino de Núrsia

Os monges beneditinos de Núrsia informaram que, contrariamente à sua vontade, o arcebispado decidiu não reconstruir a basílica em seu antigo estilo, mas sim num “estilo moderno” que rompe com o passado histórico e a finalidade do prédio.

Os monges explicaram que a Arquidiocese de Spoleto-Norcia é a proprietária dos prédios, segundo informou LifeSiteNews.

Eles receberam ordem de se mudar definitivamente para uma propriedade rural monástica a três quilômetros da cidade.

O Dr. Robert Moynihan, editor da revista “Inside the Vatican”, disse que os monges contaram que as partes remanescentes do convento virarão “residência episcopal temporária”.

Antes do terremoto, os monges levavam uma vida de estrita observância e celebravam o rito extraordinário da Missa em latim.

Eles tinham restaurado importantes partes da basílica e do mosteiro, inclusive a biblioteca, as celas monásticas e a torre do sino, bem como encomendado belos quadros da Crucifixão para o refeitório.

“Essa época da vida do mosteiro acabou, segundo parece”, acrescentou Moynihan.

A decisão do arcebispo de Spoleto-Norcia, Mons. Renato Boccardo, causou consternação.

Diante das reações, em declarações à agência SIR, o bispo pareceu dar meio passo atrás, acenando para “um concurso internacional aberto a todos”, informou ACIPrensa.

Não ficam excluídos os projetos modernistas, mas foram convidados “os grandes nomes da arquitetura”, os quais, de modo geral, são ousadamente vanguardeiros e infensos à tradição católica.

Em termos enrolados, o arcebispo disse visar “um projeto que mantenha reunidas as partes que ficaram da igreja, da fachada, da abside, da base do campanário, unidos com uma nova aula litúrgica que conserve a memória do passado, se abra ao presente e ao futuro valorizando os restos do terremoto que são cicatrizes que não podemos apagar”.

O prelado anunciou que todas as obras artísticas e ornamentos sagrados recuperados nas igrejas foram transladados para uma espécie de museu denominado “local da memória” temporário.

Os monges e os católicos de Núrsia temem que esse seja o destino final do projeto que o arcebispo modernizado deseja ver triunfar a priori “num concurso internacional aberto a todos”, mas com as cartas marcadas para qualquer coisa que não seja a restauração do prédio tradicional.

Se for efetivada essa ruptura com o passado religioso e histórico do local, mãos humanas terão feito uma destruição maior que os terremotos. E mãos episcopais consagradas!

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