COMO O CAMPONÊS APRENDEU O PADRE-NOSSO

Era uma vez um camponês que tinha um coração duro, e não era esmoler.

Foi-se confessar certo dia, e o confessor deu-lhe por penitência rezar sete vezes o Padre-Nosso.

— Não o sei, e nunca o pude aprender — respondeu o aldeão.
— Pois neste caso imponho-te por penitência emprestar um alqueire de trigo a todas as pessoas que te forem pedir, de minha parte.

No dia seguinte de manhã apresentou-se o primeiro pobre.
— Como te chamas? — perguntou-lhe o camponês.
— Padre-Nosso, que estais no céu — respondeu o pobre.
— E o teu sobrenome?
— Santificado seja o vosso nome.
E o pobre foi-se embora com o seu alqueire de trigo.

No outro dia chegou um segundo pobre.
— Como te chamas?
— Venha a nós o vosso reino.
— E o teu sobrenome?
— Seja feita a vossa vontade.
E partiu com o seu alqueire de trigo.

Veio um terceiro pobre.
— Como te chamas?
— Assim na terra como no céu.
— E o teu sobrenome?
— O pão nosso de cada dia nos dai hoje.
E levou o seu alqueire.

Vieram ainda dois pobres sucessivamente, e passou-se tudo da mesma forma, até chegar ao “amém”.

Pouco tempo depois o confessor encontrou o aldeão.

— Então já sabes o Padre-Nosso?
— Não, senhor cura. Sei apenas os nomes completos dos pobres a quem emprestei o meu trigo.
— Quais são?

E o aldeão enumerou-os a seguir, e pela ordem em que cada um se tinha apresentado.

— Já vês que não era muito difícil aprender o Padre-Nosso, porque já o sabes perfeitamente.

(Guerra Junqueiro, “Contos para a infância” – Lello & Irmão, Porto, 1953)

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