A família não é apenas o elemento fundamental de qualquer Estado, mas também o seu elemento constitutivo, pois a sociedade regular organizada – tal como ela existe – não se compõe de indivíduos, mas de famílias. Actualmente só os indivíduos contam, e o Estado só reconhece cidadãos isolados. Isto é contrário à ordem natural. Cada lar era considerado o centro de uma família, e cada família era, dentro do Estado, tanto uma unidade política e jurídica, quanto económica.
Segundo Buisson, o indivíduo é apenas um elemento dentro dessa célula orgânica da sociedade, que é a família. Separar os seus elementos, fazer o individualismo, é destruir-lhe a vida, é torná-la impotente para preencher o seu papel na constituição do ser social, como o faria, nos seres vivos, a dissociação dos elementos do reino vegetal ou animal.
Isso era tão bem compreendido em Roma, que o Estado romano primitivo só conhecia as gentes, e para se ter uma situação legal era necessário ser membro de uma dessas corporações. Da mesma forma, em França, durante a alta Idade Média, não havia lugar para o homem isolado.
As famílias são os pilares dos Estados
Reencontramos aqui as grandes leis que Deus estabeleceu por meio da criação do homem, na sociedade primitiva, a fim de que elas continuassem a reger todas as sociedades humanas, seja qual for o desenvolvimento que adquiram.
Se existem leis para as formigas e as abelhas — diz de Bonald —, como é que é possível pensar que não haja leis para a sociedade humana, e que ela tenha sido abandonada aos seus próprios caprichos? Rousseau pensou assim, e pospôs-se a formular para os Estados leis diferentes das que lhe deu o Criador. E os democratas, seus discípulos, esforçando-se para aplicar as suas lições – e estabelecer nos Estados a igualdade, oposta à hierarquia; a liberdade, oposta à autoridade; a independência recíproca, oposta à união –, não podem senão destruí-la, e destruí-la pela base.
Se os povos são constituídos apenas de famílias vivas, e se as leis impostas por Deus à família devem ser as de toda a sociedade, é necessário aos Estados reproduzir em si algo daquele primeiro tipo. ‘Os gregos e os romanos — diz o Pe. Fleury —, tão renomados pela sabedoria deste mundo, ensinavam a política governando as famílias. A família é uma imagem do Estado em ponto pequeno. É sempre conduzir os homens vivendo em sociedade’. (Opuscules I, p. 292).
Leão XIII ensina do mesmo modo: “A família é o berço da sociedade civil, e é dentro desse círculo doméstico que se prepara, em grande parte, o destino dos Estados.” (Sapientiae christiana). Em outro local, afirma: “A sociedade familiar contém e fortifica os princípios e, por assim dizer, os melhores elementos da vida social. Portanto, é disso que depende em grande parte a tranquilidade e prosperidade das nações”. (Quod multum).
_________________
Nota
(Mgr. Henri Delassus, Espírito de família, Editora Civilizações, Porto, 1999 ).
Deixe um comentário