Modéstia: virtude essencial – II

Modéstia: virtude essencial para proteger a castidade e salvaguardar a família
O Apóstolo São Paulo

A modéstia é uma virtude essencial para todos nós, homens e mulheres de todas as idades e de todos os tempos. Ela é a protetora da castidade e, portanto, uma salvaguarda valiosa da família.

Publicamos a seguir a continuação do estudo do escritor americano Hugh Owen. Católico do rito greco-melquita, casado e pai de nove filhos, é fundador e diretor do Centro Kolbe para o Estudo da Criação.

Na segunda parte, que hoje publicamos, o autor explora trechos do Novo Testamento e de Padres da Igreja, para concluir pela atualidade da modéstia.

Não se trata de uma virtude ultrapassada, mas de um escudo sempre novo e forte.

O estudo veio a lume originalmente em LifeSiteNews. A tradução é nossa.

O mundo odeia as regras bíblicas de indumentária. Por que você deve segui-las mesmo assim.

O Apóstolo São Paulo

De acordo com as Sagradas Escrituras, a roupa tem outra importante função além de proteger a castidade: ela salvaguarda as funções distintas e complementares exercidas por homens e mulheres na família e na sociedade.

A primeira “regra indumentária” na Bíblia pode ser encontrada no livro do Deuteronômio. Aí, Moisés adverte o povo de que é uma “abominação” para um homem trajar-se como mulher, ou para uma mulher trajar-se como homem.

Uma “abominação” na Bíblia não é apenas um pecado. É algo profundamente ofensivo a Deus.

A ofensividade da inversão indumentária entre homens e mulheres deriva do fato de que Deus criou Adão e Eva como homem e mulher desde o princípio, iguais em dignidade mas distintos e complementares em funções.

O exemplo da Sagrada Família

Nosso Senhor Jesus Cristo, o “novo Adão”, veio ao mundo por meio da “Nova Eva”, a Santa Mãe de Deus. Muito embora a Imaculada Virgem Maria fosse “mais elevada que os Querubins e mais gloriosa que os Serafins”, Ela respeitava a liderança de seu esposo São José.

Por três vezes, o Senhor dirigiu-se à Sagrada Família para fazê-la escapar de perigos mortais, e a cada vez a ordem era dada a São José, e obedecida incondicionalmente pela Santíssima Virgem.

Desse modo, Nosso Senhor mostrou que a família cristã ideal não segue a igualdade ‘unissex’, mas nela marido e mulher, iguais em dignidade, exercem cada qual os papéis designados por Deus, distintos mas complementares.

Assim como Eva foi criada da costela de Adão para ser o apoio de seu esposo e o coração do lar, também Adão foi criado para ser o líder espiritual de sua esposa e de seus filhos, e a cabeça da casa.

Esse era o ideal plenamente realizado na Sagrada Família de Nazaré, e refletido de diversas formas nas vestimentas adotadas por Nosso Senhor, São José e Nossa Senhora.

A severidade do Apóstolo das Gentes

Ao longo do Novo Testamento, São Paulo e os apóstolos deixam claro que homens e mulheres que se revoltam contra o plano divino para os sexos não colhem senão miséria.

Em sua carta aos Romanos, São Paulo fala de pessoas que se recusam a reconhecer a Deus como Criador e a prestar-lhe a devida ação de graças. Pessoas cujos corações se obscureceram, e que rejeitam as formas naturais de relação entre os sexos, trocando-as por relações homossexuais.

Ele escreve:

“Por isso, Deus os entregou a paixões vergonhosas: as suas mu­lheres mudaram as relações natu­rais em relações contra a natureza. Do mesmo modo também os homens, deixando o uso natural da mulher, arderam em desejos uns para com os outros, cometendo homens com homens a torpeza, e recebendo em seus corpos a paga devida ao seu desvario.

Como não se preocupassem em adquirir o conhecimento de Deus, Deus entregou-os aos sentimentos depravados, e daí o seu procedimento indigno.

São repletos de toda espécie de malícia, perversidade, cobiça, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade.

São difamadores, caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, soberbos, altivos, inventores de maldades, rebeldes contra os pais. São insensatos, desleais, sem coração, sem misericórdia.

Apesar de conhecerem o justo decreto de Deus que considera dignos de morte aqueles que fazem tais coisas, não somente as praticam, como também aplaudem os que as cometem” (Rom. 1:26-32).

A advertência de São Paulo se aplicava aí obviamente tanto aos homens como às mulheres.

Arnóbio, apologeta norte-africano do século IV – professor, segundo São Jerônimo, de Lactâncio, Padre da Igreja –, resumiu o enfoque de todos os Padres da Igreja de que os homens devem evitar “trajes de mulher e os maneirismos femininos”.

Ele escreveu sobre homens que

“mesmo sendo homens, frisavam seus cabelos com modeladores, alisavam a pele do corpo, e andavam com as pernas nuas.

Em todos os outros tipos de devassidão, deixavam de lado a força de sua masculinidade e se tornavam efeminados, com luxúria e trajes de mulher”.

Vê-se, portanto, que desde o início da história humana as regras indumentárias da Bíblia protegeram não só a castidade mas também os papéis distintos e complementares do homem e da mulher.

O novo Testamento e o ensino da modéstia

O ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo sobre a modéstia levou a lei Mosaica a seu pleno cumprimento. Enquanto esta realçava o comportamento exterior, Jesus visava às disposições interiores de seus ouvintes.

Como Criador, Ele conhecia o que muitos psicólogos hoje reconhecem: que os homens – muito mais que as mulheres – são atraídos pelo que veem. Por isso, Jesus enfatizava que “todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher já adulterou com ela em seu coração” (Mt, 5:28).

É também essa a razão por que o Novo Testamento traz mais regras indumentárias para as mulheres do que para os homens.

Na primeira carta de São Paulo a Timóteo, capítulo II, lê-se: “Quero que as mulheres usem traje honesto, ataviando-se com modéstia e sobriedade. Seus enfeites consistam não em primorosos penteados, ouro, pérolas, vestidos de luxo”.

De acordo com alguns comentadores, a palavra “traje”, do grego kalastole, significava um longo vestido esvoaçante, que caía desde os ombros até os calcanhares. De qualquer maneira, seria uma roupa larga que se estendesse abaixo dos joelhos.

O testemunho dos Padres da Igreja

Desde os tempos apostólicos, os Padres da Igreja insistiam no mesmo padrão indumentário para as mulheres cristãs. Escrevendo no século II, São Clemente de Alexandria afirmou:

“De maneira alguma sejam as mulheres autorizadas a descobrir e exibir partes do corpo, para que ambos não caiam – os homens sendo incitados a olhar, e as mulheres por atrair a si as vistas dos homens” (Clemente de Alexandria – circa 195 d.C., 2.246).

São Cipriano, bispo do Norte da África no século III, escreveu:

“Autocontrole e modéstia não consistem apenas na pureza da carne, mas também na aparência e na modéstia do vestir e dos adornos”.

Na Igreja Católica de rito bizantino, os Padres do Oriente são especialmente reverenciados. Entre eles, São João Crisóstomo e São Basílio Magno têm lugar de honra.

De todos os doutores que pregaram sobre os deveres dos cristãos em família e na sociedade, nenhum tem posição mais alta que São João Crisóstomo. Grande pregador de Antioquia e patriarca de Constantinopla, São João clamava com grande fervor sobre a importância da modéstia. Em uma biografia sua lê-se:

“Ele se mostrava especialmente indignado pelos trajes imodestos e pela conduta das mulheres, pelo uso de púrpuras, seda e joias. Ele observava que ‘seus véus não eram usados como coberturas modestas e símbolos de penitência, mas antes véus finos para atrair os olhares dos outros’. São João referia-se a tais pessoas, em alguns aspectos, como ‘piores que as prostitutas públicas: pois estas escondem suas iscas em casa apenas para os fracos’. ‘Vós, porém, carregais vossos laços por toda parte, e jogais vossas redes publicamente em toda parte’.

‘Vós alegais que nunca convidais os outros ao pecado. Não fazeis, é certo, por meio de vossa língua, mas sim por seus trajes e maneiras, e de modo mais efetivo que pela voz. Se fazeis o outro pecar em seu coração, como podeis considerar-vos inocentes? Vós afiastes e desembainhastes a espada. E destes o golpe pelo que a alma foi ferida.

‘Dizei-me: a que o mundo condena? A quem pune o juiz? Aos que bebem o veneno, ou àqueles que preparam e oferecem o gole fatal? Vós misturastes a taça execrável; e administrastes a poção mortífera. Vós sois mais criminosas que os envenenadores, já que a morte que causais é mais terrível; pois assassinais não o corpo, e sim a alma.

‘E nem fazeis isso a inimigos, nem compelidas pela necessidade, nem provocadas por alguma injúria; mas por causa de uma louca vaidade e orgulho. Vós vos divertis na ruína das almas dos outros, e fazeis da morte espiritual deles vosso passatempo’”.

Entendendo São João Crisóstomo

Seria proveitoso estudar com cuidado esses poucos parágrafos, que resumem a visão de São João Crisóstomo sobre a importância da modéstia.

Em primeiro lugar, ele condena como “piores que prostitutas” às mulheres (mas também podia se referir a homens) que vestem certos estilos de roupas que atraem a atenção a si como objetos de lascívia.

Ele rejeita em seguida a desculpa usual de que essas mulheres (ou homens) não “convidam” outros a pensamentos impuros ou a agir de acordo com desejos impuros. Responde afirmando que uma pessoa que se veste de modo a excitar pensamentos impuros, quando podia evitar de o fazer, é culpada pelos efeitos da falta de modéstia.

Por fim, São João expõe as raízes do traje imodesto como sendo o orgulho e a vaidade – o desejo de atrair a atenção a si, desviando-a de Deus e dos outros – sem preocupação com o dano espiritual que a imodéstia inflige às outras pessoas.

Amarem-se como a seu próprio corpo

Há entretanto ainda outro aspecto da lição de Crisóstomo sobre o tema, que decorre de sua elevada visão do casamento. Ele toma o ensino literal de São Paulo em sua carta aos Efésios, de que o esposo deveria amar sua esposa “como a seu próprio corpo”.

Todo esposo que leva a sério esse ensinamento dedicará sua vida a sua esposa a cada dia, fazendo tudo o que pode para mostrar-lhe o quanto ela é preciosa para si. Mas ele expressará também seu especial amor por ela “como a seu próprio corpo”, encorajando-a a vestir-se modestamente.

Da parte dela, à luz do ensino de S. J. Crisóstomo, uma esposa cristã delicia-se em pertencer a seu marido e mostra-lhe, pelo modo como age e como se veste, que pertence a ele.

A modéstia nos jovens

Contudo, as implicações do belo ensinamento de Crisóstomo sobre a modéstia estende-se para além das relações entre esposos, à modéstia das crianças e dos jovens.

À luz de sua pregação sobre o Evangelho, é fácil ver que rapazes e moças deviam ver-se primeiramente e acima de tudo como “templos do Espírito Santo”. E apenas secundariamente como futuros esposos e pais, se Deus os chama para tal vocação.

Todavia, segundo as lições de Crisóstomo, rapazes e moças que discernem que Deus os chama para o santo matrimônio têm uma razão a mais para vestir-se com modéstia.

Um jovem veste-se modestamente porque sabe que seu corpo pertence de modo muito real a sua futura esposa. Ele não quer compartilhá-lo com o mundo todo.

A moça também se veste com modéstia porque sabe que seu corpo pertence, de modo muito real, a seu futuro esposo.

Quando dois jovens que viveram essa atitude se casam, conhecem uma felicidade que não pode ser comparada a nenhuma alegria mundana – a alegria de dar e receber o perfeito dom de si mesmos!

Mas nada protege melhor essa felicidade do que a prática da modéstia antes do casamento.

A modéstia está fora de moda?

Quando olhamos para os padrões indumentários, masculino e feminino, ao longo da história da Igreja, fica claro que as modas atuais colidem violentamente com os padrões de modéstia que prevaleceram desde o tempo dos apóstolos e Padres da Igreja até sessenta ou setenta anos atrás.

Em todo esse tempo, calças, vestidos curtos ou sem mangas, e saias curtas para mulheres nunca foram toleradas na sociedade católica, muito menos na Casa de Deus durante o culto divino. Tampouco foram tolerados, na igreja, shorts, camisas sem mangas, ou outras roupas casuais para homens.

A Mãe de Deus nos ensina

É digno de nota que a Santa Mãe de Deus tem aparecido na Terra inúmeras vezes desde os primeiros tempos até nossos dias, e sempre com o mesmo traje modesto, usando um longo vestido.

Se a Santíssima Virgem quisesse aprovar as modas do mundo moderno, Ela teria certamente variado seu estilo de roupa pelo menos uma ou duas vezes nos últimos dois mil anos.

Porém, de um lado ao outro do mundo, desde o tempo dos apóstolos até agora, a Virgem Imaculada guiou-se sempre pelas regras expressas por São Paulo dois milênios atrás.

Nosso Senhor Jesus Cristo também apareceu várias vezes, mas sempre com trajes dignos.

Opressão? Não…

Alguns poderiam objetar que os padrões antigos de modéstia oprimiam as mulheres (e os homens).

Vimos , entretanto, que os padrões bíblicos de indumentária sustentados pelos Padres da Igreja eram destinados a salvaguardar a castidade, bem como os distintos papéis de homens e mulheres na família e na sociedade.

Se os padrões antigos fossem opressores e inadequados a seu propósito, então seu abandono não devia ter conduzido à “confusão de gênero” ou à imoralidade sexual hoje reinantes.

Mas o que vemos? Na realidade, o abandono dos padrões bíblicos de modéstia tem sido acompanhado por um crescimento meteórico na porcentagem de católicos

  • que estão confusos sobre sua real identidade sexual
  • que aprovam a homossexualidade como um estilo de vida aceitável
  • e que praticam ou toleram a fornicação, a contracepção, o aborto e o divórcio[1].

… Escudo protetor!

É realmente possível que o abandono dos padrões bíblicos de modéstia não tenha influenciado em nada a explosão da confusão sexual e da imoralidade dentro da comunidade católica, especialmente na Europa e na América do Norte?

Os católicos podem impunemente violar as regras determinadas deste os tempos apostólicos e mantidas por quase dois mil anos?

Já não será tempo de abandonarmos essa experiência destruidora, e retornarmos às diretrizes transmitidas pelos que nos precederam na Fé?

O que é correto não pode ser determinado por pesquisas de opinião; só pode definido após uma consulta à Palavra de Deus com tem sido entendida pela Igreja desde o início.

Isso feito, torna-se evidente que a modéstia não está “fora de moda”, ultrapassada. Ela é um escudo essencial para a castidade e para a sexualidade virtuosa.

Fazer uso desse escudo traz a vida. Descarta-lo é suicídio.


[1] De acordo com pesquisas do Instituto Gallup entre 2006 e 2008, a porcentagem de católicos norte-americanos que aprovam a imoralidade sexual é maior que a taxa entre os não-católicos. Quando consultados se as seguintes práticas são moralmente aceitáveis, as respectivas porcentagens de católicos responderam “Sim”: relações sexuais entre um homem e uma mulher não casados? 67%; divórcio? 715; relações homossexuais? 54%.

Seja o primeiro a comentar

Deixe um comentário