O período penitencial da Quaresma chegou. E é preciso que alarguemos nossos horizontes.
Nós católicos, nesse período, costumamos abrir mão de algo. Esses sacrifícios, normalmente, envolvem abandonar hábitos, comidas e bebidas como meio de expiação por nossos pecados.
Trata-se de um compromisso muito pessoal que reflete o desejo de reformar nossas vidas.
Este ano, entretanto, não é como os outros. Dizem por aí que devemos aceitar um “novo normal” que subverte nossos hábitos e padrões de vida. Tudo está de cabeça para baixo, até mesmo nossa penitência de Quaresma.
Aumentando a confusão, muitas das mudanças envolvem desastrosas restrições em nosso ganha-pão e em nossos meios de louvor a Deus. Outro ponto preocupante são as leis anticristãs que despontam no horizonte.
Nossa penitência quaresmal parece tão desencaixada da vida moderna… Com isso, muitas pessoas sentem-se desencorajadas, pois se veem impotentes para barrar os perigos que invadiram subitamente nossas vidas.
Necessidade de alargar os horizontes
Nesta Quaresma, precisamos alargar nossos horizontes para além do desejo pessoal de expiação. Devemos encontrar um jeito de integrar os trágicos eventos que nos cercam a nossa observância quaresmal.
Se conseguirmos isso, nossa penitência será mais efetiva e nossa Quaresma se verá sublimada.
Há uma crença generalizada de que a culpa dos males que pesam sobre nós deve ser atribuída apenas aos ímpios. Como católicos piedosos, não conseguimos compreender por que nos achamos no presente estado de desolação.
Afinal, já fizemos tanto para nos opor a esses males! E, no entanto, as várias crises de nossos dias pesam enormemente sobre nós, mesmo com todos os nossos esforços e orações.
Tal visualização, contudo, é equivocada.
Poderemos compreender melhor esta Quaresma se considerarmos nossas próprias faltas, e como elas impactam nossa nação e o mundo. Enquanto os ímpios promovem males óbvios como a descriminalização do aborto, a sodomia e a blasfêmia, nós também tomamos parte em muitos pecados que conduziram nosso país ao atual estado de miséria moral.
Precisamos reconhecer nosso papel nisso, e oferecer a devida reparação.
Expiar tais pecados nesta Quaresma é algo positivo que devemos fazer, em face de nossa impotência de mudar a sociedade para melhor. Como nos tempos antigos, tal expiação pode mover a Deus, e Sua maneira de agir será mais eficaz que os nossos parcos meios.
O objeto da penitência deve ser o ódio ao pecado
A Enciclopédia Católica define a penitência como “a virtude moral sobrenatural pela qual o pecador se dispõe a odiar seu pecado como uma ofensa contra Deus, e a um firme propósito de emenda e satisfação”.
O objeto de nossa penitência não é o pecado em geral, nem os pecados dos outros, mas os nossos próprios pecados. Somos responsáveis por eles, e devemos fazer penitência.
Nesta Quaresma, portanto, devemos ver nossos pecados através da lente dos males que eles causam ao bem comum da nação. Deste modo, podemos integrar nossas penitências com o que está de fato acontecendo com nossa sociedade. Assim, seremos capazes de compreender os horrores do mundo que nos cerca, e implorar a ajuda de Deus.
Os pecados pelos quais devemos expiar
O Brasil é, sem dúvida, uma nação pecadora. Devemos reconhecer que, mesmo se sofremos pelo país e buscamos a justiça, todos pecamos diante de Deus e contribuímos com a iniquidade de nossa nação.
Pecamos tomando parte em matérias que ofende a Deus. Isto é especialmente verdade quanto às modas e à cultura hipersexualizadas de hoje. Temos um papel no favorecimento da impureza e na aceitação culpável de todos os tipos de aberração sexual.
Pecamos por omissão, deixando de clamar contra os ultrajes que se cometem em nosso redor. Em muitas ocasiões, podemos nos calar, sermos laxos ou temerosos de lutar contra a cultura moderna pecaminosa que invade nossa família e nossa comunidade.
Pecamos pela indiferença às blasfêmias e às ofensas contra Deus, sua Mãe Santíssima e a Igreja, por vezes procedentes das próprias estruturas eclesiásticas. Devemos zelar pela defesa do ensinamento da Igreja e da lei de Deus diante de uma sociedade que se vangloria de os destruir.
De fato, devemos nos perguntar se temos rezado suficientemente por nossa decadente nação. Precisamos odiar nossa cumplicidade, fraqueza ou preguiça que fazem com que tais pecados prossigam sem oposição.
Um olhar equilibrado sobre nossas iniquidades
Tal vista sobre a parte que temos nos pecados de nosso país deve nos levar a observar a Quaresma de um modo diferente.
Ela nos leva a perceber que a verdadeira causa de nossos atuais infortúnios não são apenas as reivindicações dos maus. Também a nossa indiferença e os nossos pecados atraem o castigo de Deus sobre nós.
Essa sublime posição de alma nos habilita a clamar a Deus e implorar sua misericórdia sobre nosso país. Diz a Escritura:
“Convertei-vos! Renunciai a todas as vossas faltas! Que não haja mais em vós o mal que vos faça cair” (Ez. 18,30).
Trata-se de uma posição equilibrada, que não nos deve levar a penitências de um rigor que esteja além de nossas forças.
O principal ato de penitência não é o abrir mão, ou o sacrifício. Mas sim nosso ódio aos pecados que ofendem a Deus, e nosso arrependimento. Essa tristeza sincera é que nos leva a fazer ou sofrer algo como meio de expiação por nossos pecados.
Portanto, podemos manter nossos sacrifícios quaresmais costumeiros, renunciando a pequenos hábitos ou alimentos. Contudo, essa perspectiva nos leva a oferecer esses mesmos sacrifícios a Deus como uma expiação nascida do ódio a nossos pecados.
Com isso, nesta Quaresma, podemos fazer algo sublime em face dos grandes males que presenciamos. Não há razão para nos sentirmos desencorajados, se agirmos dessa maneira. Sem dúvida, este é um tema central da esperança que a Virgem nos comunicou em Fátima.
A História nos ensina que Deus vê de modo favorável tais atos de expiação de corações contritos e humilhados. Ele virá em nosso auxílio, influenciando os acontecimentos de modos inimagináveis.
[Este artigo foi traduzido e adaptado do original em inglês.]
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