A eutanásia é realmente um desejo do doente? Há quem ache que sim. Entretanto, como identificar se o doente, crônico ou terminal, realmente empenhou sua vontade no pedido?
Como não suspeitar de sugestões, mais diretas ou menos, daqueles que têm interesse em se desembaraçar de um estorvo?
Felizmente, nosso país não acolhe em sua legislação a possibilidade da eutanásia. Entretanto, a julgar pelo avanço da revolução cultural em todo o mundo, os defensores da vida devem se preocupar em fortalecer as muralhas contra mais esse inimigo.
Como já abordamos em outros posts, a falta de amor à Cruz de Nosso Senhor tem conduzido nossa civilização a abismos antes impensáveis. Se não intensificarmos nossa vigilância e não dobrarmos nossos joelhos – “Vigiai e orai” – seremos, nós também, vítimas dessa espiral da maldade.
As razões ocultas da aprovação da eutanásia
Alguns países vêm legalizando a prática da eutanásia, usando como desculpa tratar-se de um procedimento “humanizado”, respeitador da “dignidade” do doente.
“Se é um desejo da pessoas”, argumentam, “por que não satisfazê-lo? Por que eternizar um sofrimento inútil?”.
Ora, nos bastidores profundos dos debates que levam à aprovação dessa prática bárbara, outras razões menos “humanas” e “dignas” se escondem. Doentes crônicos e/ou terminais são um peso econômico insuportável. Risquemos tal gasto da contabilidade…
Cessado o amor à Cruz, não há força meramente humana que possa sustentar uma dedicação sem limites a um doente sem esperança. Na superfície, ainda se procura uma desculpa bonita. Mas, no fundo, já fermentam os cálculos econômicos.
Para viver uma vida de gozo, trata-se de tirar do caminho toda e qualquer lembrança da cruz!
Fala uma enfermeira veterana de cuidados paliativos
Quantas formas há de exercer coerção contra uma pessoa vulnerável, para que peça a eutanásia? Sobre isso, dá-nos algumas ideias a enfermeira neozelandesa especializada em cuidados paliativos, Denise van Aalst.
Essa enfermeira explica que sua oposição à lei da eutanásia na Nova Zelândia não se deu por razões religiosas. “Não tenho crenças religiosas”, assegura.
Opôs-se “porque a lei é perigosa” e porque “não protege aos vulneráveis em nossa sociedade. Os vulneráveis de que tanto cuidei como enfermeira. Em particular, aos anciãos e aos descapacitados”.
Denise van Aalst foi enfermeira durante 35 anos. Trabalhou com cuidados paliativos desde meados dos anos 90 e tem mestrado em Cuidados Paliativos.
“Defendo, como enfermeira, a declaração da Organização Mundial de Saúde de que os cuidados paliativos não aceleram nem atrasam a morte. Apoio aos moribundos para que aproveitem o máximo da vida, dando-lhes a melhor qualidade que posso”, declara.
De que formas se pode exercer a coerção contra o vulnerável?
“Fui testemunha de grande número de atos de coerção, em particular contra os anciãos, e isso foram apenas os atos óbvios. Há formas mais sutis de coerção, incrivelmente difíceis de detectar”.
“Você não acredita? Pergunte a qualquer agência que trabalhe o tema de abusos a anciãos se é fácil detectar. Incentivar de forma sutil e repetida, ao longo do tempo, tem um efeito poderoso”, denuncia.
Ela usa a palavra “gaslighting”, a que os psicólogos se referem, em inglês. Tal termo designa um tipo de manipulação específica em que o manipulador tenta conseguir de alguém que questione sua própria realidade, recordações ou percepções.
A coerção para a eutanásia funciona de uma forma similar e manipuladora.
Por óbvio, o mais simples é deixar claro ao enfermo ou descapacitado que eles são um peso. Os próprios anciãos o dizem às cuidadoras: “eu sou apenas um peso para minha família”, “estariam melhor sem mim”, “custo-lhes tempo de dinheiro”…
Nos países que aprovam a eutanásia, quem a custeia é o erário público. Quanto aos cuidados, quem paga é o próprio doente, ou sua família.
No Canadá, a secretaria de orçamento do Congresso calculou quanto o Estado economiza com cada doente terminal ‘eutanasiado’, comparando-se o que se gasta com a espera adicional de alguns meses. São 8.600 euros por enfermo (em se tratando de doentes crônicos e com deficiência grave, o gasto é ainda maior).
Quando o médico não conhece o enfermo nem o seu entorno
A coerção é especialmente difícil de detectar quando o médico não conhece o doente.
Os médicos que conhecem os doentes não lhes querem receitar a eutanásia. Costumam afastar-se e deixar o doente nas mãos dos médicos da morte, abertos a tal prática anti-médica.
Estes não conhecem o enfermo, sua família, seu contexto… e são especialmente ineficazes (para não dizer desinteressados) na hora de detectar coerções.
Por outro lado, a família que quer a eutanásia de seu parente buscará evidentemente um médico favorável à prática. E evitará qualquer médico sério que investigue eventuais coerções e que possa dificultar o processo.
As eutanásias “em casa”, a que acode o médico para administrar o veneno letal, garantem a manutenção das coerções. Asseguram que não intervenham profissionais incômodos, médicos ou enfermeiras que venham dizer de última hora que “o paciente me disse que não está inteiramente seguro”. Ou que “o paciente me disse que quer testar um novo tratamento de que lhe falei”.
Nova Zelândia: “lei perigosa”
No caso da lei de eutanásia neozelandesa (a primeira aprovada por um povo em referendo), Denise van Aalst recorda que 200 advogados e 1.700 médicos do país constataram que era uma lei perigosa, que causaria muitas mortes equivocadas.
Em uma carta aberta, 30 psicólogos asseguravam que a lei tampouco garantia que se examinasse a capacidade mental do solicitante, supostamente “livre e consciente”.
A lei espanhola que está em tramitação teria os mesmos perigos, e outros mais.
Um exemplo revelador
A enfermeira conta ainda uma experiência recente.
Uma pessoa pediu admissão em seu centro de cuidados paliativos pensando que ali lhe fariam a eutanásia. Quando disseram que não fariam, ela se enfureceu.
Entretanto, convenceram-lhe de que ficasse, e lhes desse a oportunidade para melhorar sua qualidade de vida.
Em poucos dias, conseguiram resolver muitos sintomas, não completamente, mas marcando uma clara diferença.
Viveu ainda várias semanas:
“passou um tempo magnífico com sua família, no final me disse que se sentia muito agradecida por não termos acabado com sua vida como ela pedia, porque tinha desfrutado suas últimas semanas, com momentos muito especiais com parentes, curando velhas feridas que de outra forma teriam se perpetuado”.
As pressões contra os descapacitados
Em agosto de 2019, o periodista e escritor norte-americano Ben Mattlinpublicou um relato sobre as coerções que sofreu para receber a eutanásia. Tetraplégico, vive sobre uma cadeira de rodas, a qual controla pela boca.
Casado e com duas filhas, há algum tempo ficou em coma após uma cirurgia, e os médicos sugeriram a sua esposa que o deixasse morrer. Se não tivesse tal deficiência, não o teriam proposto.
Obviamente, sua esposa se opôs, e o periodista continua vivo, escrevendo sobre temas incômodos.
“Se você não vive com uma deficiência incurável, não conhece as pressões e a sutil coerção que alguém nessa condição sofre para ‘sair do meio do caminho’”, escreve Mattlin, por experiência própria.
Dois pesos, duas medidas
Continua o escritor:
“Pense nisto: quando alguém fisicamente independente e saudável sente vontade de se suicidar, reconhecemos a obrigação de intervir, procurar a raiz de sua depressão, e tratar de fazer com que sua vida seja melhor.
“Contudo, quando se trata de alguém com uma deficiência ou um sofrimento crônico, de repente entendemos que o suicídio é uma ‘escolha livre’, razoável.
“E não é uma ‘escolha livre’: foi influenciada por muitíssimas pressões, sutis mas às vezes nem tanto”.
O medo do desconhecido
Por trás da solicitação de eutanásia, muitas vezes está o medo do desconhecido. É ainda o escritor americano que sentencia:
“A maioria das pessoas com esses problemas temem a existência que têm pela frente. Se soubessem que a vida com uma deficiência pode ser tão plena, enriquecedora e valiosa como qualquer outra, com certeza quase absoluta escolheriam seguir vivendo.
“Porém, se nossa cultura não se esforça por ajudar a essa gente, gente como eu, a alcançar vidas plenas, estará fazendo um péssimo serviço a uma boa parte da população.
“Não tenham pressa em empurrar para o caminho da morte às pessoas com deficiência, antes de ter feito tudo para proporcionar-lhes uma vida satisfatória”.
Resgatamos a seguir um pequeno trecho da oração que publicamos recentemente. É a única solução para um mundo que se joga no abismo da eutanásia.
“É só pela compreensão do papel da dor e do mistério da Cruz que a humanidade pode salvar-se da crise tremenda em que está afundando, e das penas eternas que aguardam os que até o último momento permanecerem fechados ao vosso convite para trilhar convosco a via dolorosa.
“Maria Santíssima, Mãe das Dores, por vossas preces obtende que Deus multiplique sobre a Terra as almas que amam a Cruz”.
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