Estudos alertam: a internet está nos emburrecendo

Estudos alertam: a internet está nos emburrecendo
A internet está nos emburrecendo

A internet está nos emburrecendo. A par de algumas tantas benesses, é esse um dos grandes malefícios que a internet trouxe. É o que estão alertando os estudiosos.

Oferecemos a nossos leitores, em tradução livre, um artigo de nosso amigo Edwin Benson, analisando o problema.

Esse tema, com efeito, é de grande importância para a defesa da família em nossos dias.

De fato, a internet invadiu de forma quase irreversível nossos lares. Junto com os benefícios de superfície, entretanto, ela vem semeando toda espécie de males.

Estar atento a esses males, para cortá-los pela raiz assim que brotem, é obrigação de todos nós, se queremos manter a saúde tanto mental quanto espiritual de nossas famílias.

Como a internet emburrece os usuários de smatphones e redes sociais

Talvez a afirmação mais verdadeira dita sobre a internet seja o axioma: “Se você não está pagando pelo produto, você é o produto”. Nunca antes um pacote de opções de serviços e entretenimento foi oferecido à humanidade com cobrança tão pequena ou mesmo nula.

Contudo, ausência de cobrança não significa “custo zero”. Tantas opções podem chegar a inibir a habilidade do cérebro humano de funcionar efetivamente.

Douglas Rushkoff traz essa consideração em seu livro Team Human:

Sabemos agora, para além de qualquer dúvida, que somos mais burros quando estamos usando smartphones e mídias sociais.

Entendemos e retemos menos informação, compreendemos com menos profundidade, e tomamos decisões de forma mais impulsiva do que o normal.

Esse estado mental sem amarras, por sua vez, nos torna menos capazes de distinguir o real do falso, o compassivo do cruel, e até o humano do desumano.

Dr. Rushkoff estuda a interação humana com a internet. Ele é professor de Teoria da Mídia e Economia Digital na CUNY/Queens, onde fundou o Laboratório de Humanismo Digital.

A máquina de vendas

O emburrecimento dos consumidores pela ciência e pela tecnologia tem uma longa história. Muitos autores admitem abertamente a necessidade de as empresas modificarem a mentalidade e os hábitos das pessoas.

Na década de 50, uma pseudo-ciência chamada “pesquisa comportamental” foi largamente divulgada. Seu propugnador mais bem-sucedido foi Ernest Dichter. Ele aplicava técnicas de psicanálise freudiana ao mercado norte-americano.

A Companhia Nacional de Transmissão[1] traduziu suas intuições para a linguagem comercial no filme De Estranhos a Consumidores[2]:

Nosso relatório detalha como a publicidade, por meio da televisão, transforma pessoas estranhas a seu produto em conhecidos, de conhecidos a amigos, e de amigos a consumidores. Você pode quase dizer que, como resultado, a televisão coloca em cada sala de estar uma máquina de vendas.

A obra do Dr. Dichter foi deplorada em 1957 no livro The Hidden Persuaders[3], escrito por Vance Packard:

O uso da psicanálise de massas para guiar campanhas de persuasão tornou-se a base de uma indústria multimilionária. Influenciadores profissionais apropriaram-se dela na sua busca por meios mais eficientes de esvaziar seus depósitos de mercadorias.

A publicidade dos anos 50 parece rudimentar frente aos padrões atuais. A maior parte das pessoas é capaz de jurar que nunca seria enganada por animações amadoras, jingles absurdos, e narração sonora daqueles comerciais antigos.

Entretanto, não julgue a geração dos anos 50 com tal rigor. Naquela época, os críticos condenavam a televisão por reduzir o período médio de atenção a trinta minutos. Hoje em dia, meia hora de atenção ultrapassa em muito as capacidades de muitíssimas pessoas…

Muita informação, pouca compreensão

Sem dúvida, o Facebook foi feito sob medida para desencorajar a concentração. Consiste numa mistura de velhos amigos, candidatos políticos, produtos à venda, interesses comuns, opiniões de celebridades e questionários que não servem para nada.

Uma pessoa dedica, a cada mensagem, de um a dois segundos, e depois passa para uma nova entrada, sem a menor relação com as anteriores. Muitos posts são rapidamente esquecidos.

O Facebook é tão arrebatador, que muitos usuários vão “dar uma olhadinha” às 8 da noite e meia-noite ainda perseveram, com os olhos queimando.

Tão desfocados quanto o Facebook, Twitter, Instagram e Snapchat são entretanto muito mais rápidos, e mais populares entre as gerações mais novas. A geração Z já costuma referir-se aos usuários de Facebook como “gente antiga”.

Em alguns lares, os membros da família assistem TV na sala de estar, usam o laptop para engajar-se nas redes sociais, e jogam videogames no smartphone – tudo isso simultaneamente. Tal atividade pode parecer “multitarefa”, mas reflete uma inabilidade para focar-se em apenas um conjunto de estímulos.

Quem controla a informação?

Os promotores dos filmes, mídias sociais e videogames estão o tempo todo nos observando. Cada clique do mouse é anotado e passa a integrar um algoritmo. Os usuários estão sendo pesados e medidos para que a próxima propaganda oferecida seja mais eficiente.

O usuário é jovem ou velho? Atlético ou sedentário? Prefere jantar fora ou comer em casa? Costuma ler um artigo até o fim, ou apenas o primeiro parágrafo?

Essas informações são usadas para se fazerem predições. Tais dados são valiosos para o comércio, a indústria e os políticos.

Enquanto o consumidor é desfocado, os compradores de dados são extremamente focados em selecionar o correto subgrupo para maximizar os resultados desejados.

O algoritmo prediz os resultados, e as empresas caçadoras de dados estão sedentas de vender sua informação àqueles que pagarem o preço correto.

As implicações do “Princípio de Pareto”

No coração de boa parte dessa análise existe algo chamado de “Princípio de Pareto”, também conhecido como a regra 80/20.

Seu nome vem do economista italiano Vilfredo Pareto, que viveu na virada do século XX. Ele percebeu que 20% das pessoas possuíam 80% das riquezas. E observou mais tarde a existência de uma razão semelhante em outros aspectos da vida econômica.

O site Balance Careers cita outros exemplos:

  • 80% das entradas financeiras de uma empresa são geradas por 20% dos seus clientes
  • 80% das reclamações vêm de 20% dos clientes
  • 20% dos investidores proporcionam 80% do financiamento
  • 20% dos empregados usam 80% de todos os dias de licença-saúde

Para simplificar, os gigantes dos dados descobriram que os algoritmos podem predizer acuradamente por volta de oitenta por cento das interações humanas. Eles estão constantemente afiando o sistema, já que um aumento de 2 pontos percentuais pode significar imensos lucros.

O mundo orgânico e o mundo virtual

Douglas Rushkoff acredita que a artificialidade do mundo virtual confunde a mente, porque o cérebro normalmente se baseia em informação “orgânica” obtida a partir de interações genuínas com o mundo real. O uso abusivo da internet, segundo ele, torna as pessoas mais previsíveis, mais maquinais.

Para os gestores da internet, esta é uma muito boa notícia.

Como Dr. Rushkoff aponta,

os reais inimigos do Time Humano, se podemos chama-los assim, não são somente as pessoas que estão tentando nos programar para a submissão, mas também os algoritmos que eles desencadearam para os ajudar nessa tarefa.

Sem dúvida, a internet é grátis, mas os usuários devem prestar atenção para não se tornarem o produto.


[1] National Broadcasting Company.

[2] Strangers into Customers, no original.

[3] Os influenciadores ocultos, em tradução livre.

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