Os defensores do aborto nos EUA parecem estar levantando uma bandeira branca. Após décadas de duros combates, percebem que sua derrota está próxima.
A liberalização do aborto naquele país se deu com uma decisão da Suprema Corte em 1973, chamada de Roe versus Wade. Ao longo dos anos, contudo, os movimentos conservadores foram se unindo em torno da bandeira da vida, e obtendo vitórias na restrição do aborto nos vários Estados.
E agora – boa notícia! – a esquerda começa a dar sinais de desânimo.
Publicamos a seguir o artigo de nosso amigo Sr. John Horvat, famoso autor norte-americano, dedicado ao tema.
Seus conselhos se aplicam muito bem a nós, defensores da vida na Terra de Santa Cruz. Pois desvendam as estratégias que os abortistas devem seguir nos próximos anos para contornar a derrota iminente.
Por que os defensores da vida devem rejeitar a bandeira branca hasteada pela esquerda
Para aqueles que vêm lutando nas trincheiras há décadas contra a decisão Roe v. Wade, é uma surpresa ver uma bandeira branca surgindo no horizonte.
Orações, sacrifícios, aconselhamento pessoal para dissuadir mães que querem abortar – esse é o esforço hercúleo acumulado por anos de luta para conquistar aquela colina ensanguentada.
Todo o mundo dizia que era tempo perdido lutar contra o aborto legal. Agora, contudo, algumas feministas estão levantando bandeira branca. Admitem a derrota, e dizem que é tempo de desistir de Roe v. Wade.
Uma dolorosa e relutante rendição
Em um artigo de opinião para o New York Times, Joan C. Willians, professora de Direito da Universidade da Califórnia, faz uma rara declaração de derrota desde o lado dos defensores do aborto.
Ela afirma:
“um sinal de que a esquerda já perdeu a batalha do aborto é o fato de que não há nenhuma clínica de aborto em 90% dos municípios dos EUA.
Esse é o resultado da bem-sucedida estratégia ‘do salame’ usada pelos anti-abortistas, que foram acumulando restrição sobre restrição para tornar o aborto inacessível”.
A autora admite que sacrificar Roe v. Wade seria uma dolorosa e relutante rendição. Veremos se a esquerda afinal cederá. Entretanto, a admissão da derrota permite aos pró-vida perceberem as terríveis dificuldades da guarnição Roe acampada sobre a colina.
Qualquer que seja o resultado, a esquerda está procurando salvar o que puder, e pensar para além de Roe. Os pró-vida precisam fazer o mesmo, perseverando em suas “altamente vitoriosas” ofensivas do passado, somando novas estratégias – e novas vitórias.
As razões da esquerda para aceitar a derrota
A lógica latente no artigo da Profª. Williams reside em que o tema do aborto não apenas frustrou a esquerda, mas também energizou a direita.
Os caminhos das coalizões conservadoras para a vitória convergiram em torno do temo do aborto. As eleições presidenciais e as nomeações para a Suprema Corte foram se decidindo sempre mais ao redor de Roe v. Wade, agitando uma grande paixão e animando os votantes pró-vida, mesmo os mais jovens.
A esquerda não consegue igualar a paixão da direita, e acaba perdendo as eleições e a oportunidade.
Ela argumenta que o acesso ao aborto já está em queda. Desistir de Roe v. Wade não mudará dramaticamente a situação atual.
Entretanto, isso contribuiria para desinflar o estado emocionalmente carregado, e permitir às forças pró-aborto uma mudança de estratégia, deixando o espírito de confrontação e adotando um diálogo em que, gradualmente, todos acabarão por aceitar o aborto.
A teoria de Ginsburg
A Profª. Willians faz seus os conselhos da falecida juíza Ruth Bader Ginsburg, quem declarou, em palestra no ano de 1992, que Roe tinha sido um erro porque introduzira o conflito no debate.
A juíza frisava que os legislativos estaduais já vinham tendendo a afrouxar as leis de aborto desde os inícios da década de 70.
Quando a rígida decisão Roe surgiu na cena, o diálogo parou, e “um bem-organizado e sonoro movimento pró-vida se uniu e conseguiu, em um tempo considerável, virar o leme da legislação para o sentido oposto”.
A professora acredita que uma pequena bandeira branca no campo de batalha poderia abrir espaço para uma mesa de negociações. Um mundo “pós-Roe” poderia recolocar as coisas no status quo anterior e empurrar os Estados na direção de uma liberalização do aborto em suas legislações locais.
Ela acha que tal jogada poderia também dissolver as coalizões conservadoras, ao retirar seu princípio unificador. E as feministas poderiam encontrar o seu princípio de unidade em outros temas sociais que também favorecem a esquerda.
Uma estratégia a ser rejeitada
A estratégia da esquerda é clara. Ela já não consegue lidar com o crescente poder de fogo pró-vida, que está arruinando a fortaleza Roe. Faz-se necessária uma atitude mais suave para amolecer o comportamento incondicional dos ativistas anti-aborto.
Insinua-se também nesse plano a necessidade que a esquerda tem de ganhar tempo, permitindo que a revolução sexual continue a erodir as gerações mais jovens.
“Dialogar” com os pró-vida não significa discutir o tema de modo civilizado. Significa antes promover a batalha do aborto por outros meios, levando as pessoas a aceitar o aborto disfarçado de coexistência e diálogo.
Novas contra-estratégias
Se a esquerda renunciar a Roe v. Wade, o movimento pró-vida deverá adotar novas contra-estratégias.
Há três coisas que os ativistas da vida precisam fazer, para contornar as armadilhas da esquerda e assegurar novas vitórias:
1. Perseverança e determinação
A primeira coisa é continuar a ser o mesmo “bem organizado e sonoro movimento pela vida”.
Quando o aborto for devolvido para as legislações estaduais depois da derrota de Roe, o movimento pró-vida deve persegui-lo com a perseverante determinação que sempre demonstrou.
Qualquer diálogo que não inclua a incondicional rendição do aborto em todas as formas deve ser terminantemente rejeitado.
2. Contra-ataque à revolução sexual
A segunda coisa é partir para o ataque contra a revolução sexual, que está devastando a família e a sociedade e conduzindo a tantos abortos.
O movimento fez bem em obstar o acesso ao aborto em vastas partes do país. E precisa agora estender essa vitória, utilizando a mesma determinação na luta contra a cultura imoral e impura.
É preciso combater as modas e a indústria do entretenimento que corrompem os costumes de incontáveis americanos, levando milhões de almas ao pecado mortal da fornicação e, mais tarde, ao aborto.
3. Foco na dimensão religiosa da luta
Finalmente, o movimento pró-vida precisa concentrar-se na dimensão religiosa da batalha contra o aborto.
Esse foco religioso permite-lhe inspirar e motivar seus membros e garante seu sucesso.
Os ativistas não estando lutando só pela transformação política, mas também, e sobretudo, pela salvação eterna de incontáveis almas: pais, mães, crianças, médicos, enfermeiras e… até políticos.
O movimento pró-vida confia no auxílio de Deus, sua verdadeira força.
Rendição incondicional é a única oferta aceitável
A esquerda nunca poderá compreender esse último ponto, porque não acredita no pecado, na graça, na vida eterna, ou mesmo em Deus agindo na História.
A análise da Profª. Willians supõe que haja espaço para diálogo. Porém, a perspectiva feminista vê as coisas de modo puramente secular, naturalista e pós-moderno, sem nenhum significado ou propósito moral.
Portanto, a perspectiva pró-aborto nunca compreenderá que a motivação do movimento pela vida nada tem de comum com o egoísmo estreito e mundano dos defensores do aborto.
O lado pró-aborto não consegue fazer ideia de que, quando está em jogo o destino de almas imortais, não há acordo possível.
O movimento pró-vida deve rejeitar a manobra do diálogo, que é o sinal de fraqueza de um inimigo que declara sem volteios que “a esquerda já perdeu a luta pelo aborto”.
É bom ver uma bandeira branca no horizonte. Willians afirma que, apesar de ter resistências à estratégia ‘anular e seguir em frente’, “seguir em frente pode ser nossa única chance”.
Independentemente da mudança de estratégia da esquerda, o movimento pró-vida deve confiar em Deus e responder ao pedido de trégua, declarando que uma bandeirinha branca não é suficiente.
A rendição incondicional é a única oferta aceitável.
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