Nossa Senhora do Monte Claro – Czestochowa

Nossa Senhora de Czestochowa - By Andrzej Otrębski, CC BY-SA 4.0 , via Wikimedia Commons

26 de agosto é festa de Nossa Senhora do Monte Claro em Czestochowa, Polônia. Um belo quadro de Nossa Senhora que, segundo a tradição, foi pintado por São Lucas. A coroação dessa imagem como rainha e padroeira da Polônia ocorreu após vitória miraculosa, que salvou o país!

Mosteiro de Jasna Gora By Fotoomnia, CC BY 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by/4.0, via Wikimedia Commons

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Em procissão com o Santíssimo Sacramento, os monges seguiam lentamente pelas muralhas da fortaleza. Enquanto entoavam cânticos de piedosa confiança na proteção da Santíssima Virgem, benziam os canhões, um por um, os projéteis de chumbo, os de ferro e os barris de pólvora. Doze canhões ainda recentemente haviam chegado para ajudar na proteção do santuário. Mas, além dos 70 monges, não havia mais que uns poucos nobres e 160 infantes para a luta que em breve se travaria para impedir que o santuário de Czestochowa caísse nas mãos dos protestantes.

O “Dilúvio”

O “Dilúvio” foi a melhor expressão encontrada pelos poloneses para designar a invasão dos protestantes suecos em 1655. Aproveitando-se do enfraquecimento da Polônia por recentes guerras, Carlos Gustavo, rei da Suécia, dominou comum pequeno contingente quase todo o país, quase sem resistência. Abalada pelas heresias, grande parte da nobreza polonesa aderiu ao invasor sueco, abandonando o seu legítimo rei, João Casimiro.

Após a conquista de Cracóvia, Carlos Gustavo enviou um exército de três a quatro mil homens para conquistar o santuário de Jasna Gora (Monte Claro), localizado na cidade de Czestochowa.

Heroica resistência de Jasna Gora

Os monges paulinos incumbiam-se da guarda da preciosa imagem de Nossa Senhora e de seu mosteiro, cujo santuário tomara anos antes o aspecto de uma fortaleza: fortes muralhas, bastiões, fosso, e até mesmo uma guarnição. Tal segurança era necessária, pois o ódio dos protestantes já havia causado grandes danos ao Santuário e à própria imagem da Santíssima Virgem, que apresenta cicatrizes até hoje visíveis em sua sagrada face.

Alguns nobres poloneses buscaram refúgio em Jasna Gora, dispostos a morrer em defesa da honra desse santo lugar. O rei João Casimiro refugiara-se na cidade de Opole, na Silésia, e nenhum auxílio podia prestar ao mosteiro.

A um traidor que aconselhara a rendição, os monges, tendo à frente o seu prior, Frei Agostinho Kordecki, redarguiram: “Antes morrer dignamente do que viver na impiedade”. Frei Kordecki animava todos a depositarem uma confiança inabalável na Virgem Santíssima, dizendo que “em tão extrema necessidade, Ela não lhes faltaria com seu auxílio”.

Frei Agostinho Kordecki

Mosteiro respondeu pela boca dos canhões

Comandado pelo general Miller, um exército protestante de quatro mil homens e 19 canhões de grosso calibre chegou aos pés de Jasna Gora no dia 18 de novembro de 1655.

Seu chefe começou enviando aos monges uma proposta de capitulação “pacífica”. Mas estes sabiam que não se podia depositar qualquer confiança em inimigos tão arraigados na heresia. “Não nos pareceu conveniente responder por escrito a essa carta. Já não era hora de escrever, mas de agir pelas armas. Nós lhes respondemos pela boca dos canhões” — registrou Frei Kordecki. A resposta foi tão convincente que, ao anoitecer, Miller foi obrigado a pedir uma trégua.

Quando o general remeteu nova proposta de rendição, Frei Kordecki respondeu, apontando-lhe uma contradição: “Se o rei dos suecos prometia liberdade religiosa aos poloneses, como ele [Miller] desejava ocupar militarmente Jasna Gora?”.

Enfurecidos, os protestantes concentram contínuo ataque de três dias contra Jasna Gora, lançando granadas e projéteis incendiários, numa tentativa de reduzir a cinzas as instalações do mosteiro e do santuário. Ao cair da noite, ocupavam-se em abrir trincheiras em direção aos muros.

Defesa de Jasna Góra. Quadro pintado por January Suchodolski.

Táticas de guerra psicológica no século XVII

Certo dia, em meio ao fragor do bombardeio, um piedoso hino sacro procedente do alto da torre do santuário comunicou novo ânimo aos seus heroicos defensores. Desde então, tornou-se costume ouvir hinos em meio à luta. Isso enfurecia ainda mais os protestantes. Sempre que havia um pretexto, os monges procuravam realizar conversações e armistícios com os suecos, esperando assim ganhar tempo e atrasar o assalto inimigo.

Os hereges procuravam de todas as maneiras quebrar o ânimo dos resistentes. Certa vez, para extirpar dos sitiados qualquer esperança de auxílio externo, difundiram a notícia da queda dos últimos bolsões de resistência no país. Mas, no dia 8 de dezembro, um aldeão conseguiu chegar até os muros do santuário e comunicar aos monges que numerosas tropas tártaras acorriam para se unir ao rei João Casimiro.

Clara intervenção da Providência divina

Alguns dias depois, o bombardeio contra o mosteiro ganhou tal fúria, parecendo que “o próprio inferno vomitava contra o sagrado ícone”. Os monges, entretanto, como de costume, realizavam nessa manhã uma cerimônia em honra do Santíssimo Sacramento. Após a Santa Missa, o Santíssimo foi conduzido em procissão ao longo das muralhas, com balas passando rente à cabeça dos defensores. Somente após o término das cerimônias os resistentes responderam ao fogo inimigo.

O inverno tornava-se cada vez mais intenso, favorecendo os defensores. Assim, quando os suecos efetuaram seu primeiro assalto, foram repelidos com facilidade, pois a neve denunciava seus movimentos, tornando-os alvo fácil. Deslocando então o assalto para outro lado, os hereges tentaram demolir os muros por meio de intenso bombardeio.

Em 20 de dezembro, um nobre polonês deixou a fortaleza a cavalo, acompanhado por alguns soldados. Deslocando-se pelo fosso e depois pelas trincheiras do inimigo, atingiu de surpresa alguns de seus destacamentos avançados, matando vários soldados e destruindo dois canhões. O fogo procedente das muralhas cobriu-lhe a retirada. Nessa incursão, o nobre perdeu apenas um homem. Os suecos, porém, suspenderam seus ataques por dois dias, para cuidar dos mortos e feridos.

Santíssimo sendo conduzido em procissão

Afinal, chega reforço para os sitiantes

No dia 23 os defensores de Jasna Gora divisaram no horizonte, procedentes de Cracóvia, carroças inimigas carregadas de pólvora e grandes canhões. Com a nova artilharia pesada e os carros de assalto, o general Miller preparou-se para um segundo assalto. Como de costume, enviou uma mensagem aos monges, propondo-lhes a rendição e ameaçando descarregar todo o seu ódio se sua proposta fosse recusada.

Respondendo amavelmente, Frei Kordecki pediu certo tempo para pensar, e também uma trégua para o dia seguinte, pois seria o dia de Santo Natal. Miller treplicou imediatamente que concederia a trégua somente se recebesse, naquela mesma noite, uma resposta concordando com a rendição. Desta vez, o Prior decidiu não responder. E os religiosos passaram em claro a noite da véspera do Natal.

Enquanto esses fatos se passavam, produzia-se na Polônia grande mudança. O povo estava amargurado pelas contínuas violências de que era objeto. Os suecos haviam promovido saques, assassinado sacerdotes, profanado templos, violado mulheres e cometido muitos outros crimes; mas, sobretudo, eram vistos como hereges.

Os protestantes atacam no próprio dia de Natal

Ao meio-dia do dia 25 começou o ataque maciço. Os canhões troavam e suas balas chocavam-se com tanta força nas paredes do claustro, que em muitos lugares as transpassavam. Rebatendo aqui e acolá, os impactos lançavam pó e destroços nos corredores e nas escadarias, causando tanto pavor entre os resistentes, que ninguém tinha coragem de olhar pela janela. Em seguida, o inimigo laçava tochas que espalhavam um fogo pavoroso. Causavam especial terror aquelas que continham canos de ferro, as quais ao explodirem despejavam fogo e chumbo por todos os lados. Assim passaram os sitiados aquele dia de Natal!

Representação do cerco de Czestochowa

Milagrosa aparição mariana coroa vitória final

Ao anoitecer, grande medo apoderou-se do acampamento sueco. Um projétil, atirado por um dos canhões pesados que mais dano causava às muralhas, ricocheteou nos muros e retornou com a mesma força contra o próprio canhão, destruindo-o e matando seu artilheiro, fato confirmado por muitas testemunhas. A partir desse momento, cessou o troar dos canhões.

O comandante Miller também relatou ter ficado perturbado pela aparição de nobre mulher com face ameaçadora, que lhe dirigiu palavras terríveis. Um poder miraculoso punha fim ao cerco, embora os suecos dispusessem de munição à vontade.

No dia seguinte, os defensores prosseguiram com as festividades do Natal. As tropas suecas julgaram tratar-se da comemoração de alguma vitória. Desanimados, os oficiais concluíram que os sitiados deviam estar muito bem providos para se permitirem tais festas. Na realidade, transcorridos 38 dias de sítio, os mantimentos e as munições estavam no fim.

Durante a madrugada, os comandantes do exército sueco efetuaram a retirada. O exemplo de Czestochowa despertara reações por todo o país, e a sublevação dos polacos contra os suecos já se tornara generalizada. A nobreza polonesa formou então uma confederação em favor do rei e da verdadeira religião, enquanto os tártaros reforçavam a reação.

Glorificação de Nossa Senhora em Czestochowa

No dia 1º de abriu de 1656, alguns meses antes da vitória final contra os suecos, o rei João Casimiro, reconhecendo o amparo da Santíssima Virgem, dirigiu-se, em companhia da nobreza e de povo, à catedral de Lviv, onde proclamou solenemente Nossa Senhora de Czestochowa “Rainha e Mãe da Polônia”.

Nossa Senhora de Czestochowa

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Nossa Senhora do Monte Claro, rogai por nós!

Ivan Rafael de Oliveira

Fontes de pesquisa:

Uma epopeia católica: O cerco do santuário de Czestochowa, Gustavo Antônio Solimeo, Catolicismo, agosto/1972, pp. 4 e 5.

Historia Universal, Juan Baptiste Weiss, Editora, Tipografia La Educación, Barcelona, 1933, Vol. X, p. 925.

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